segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Notícias - Atores contracenam com robôs em peça de teatro - Notícia - VEJA.com

Inteligência artificial permite que clássico do teatro seja representado pela primeira vez com robôs reais


Parece ficção científica, mas humanos e robôs contracenando juntos em uma peça de teatro já é realidade desde quinta-feira, em São Paulo, quando estreou a peça teatral RUR, O Nascimento do Robô. Organizada pelo artista plástico especializado em robótica e inteligência artificial português Leonel Moura e baseada em um clássico do teatro que deu origem à palavra "robô", a peça, que estreou no último dia 5 e fica em cartaz até dia 15, no Itaú Cultural, coloca no mesmo palco robôs cheios de tecnologia e atores de carne e osso. 

Utilizando um sofisticado sistema, os robôs se movimentam livremente pelo palco, falam, e um deles interfere aleatoriamente na atuação dos artistas humanos. A peça original, escrita pelo escritor tcheco Karel Čapek em 1920, já foi apresentada no mundo todo e, segundo Moura, é a primeira vez que os robôs de Čapek são representados por figuras da mesma espécie. "Os papéis dos robôs eram sempre feitos por humanos", afirmou o português.

A ideia de dar vida aos robôs era sonho antigo de Moura. Quando começou a trabalhar com robótica, há 10 anos, teve a ideia de adaptar o clássico tcheco. Mas o sonho só começou a se concretizar em 2009, com o convite feito por Marcos Cuzziol, organizador do centro cultural, para realizar a peça no Brasil.

Para ajudar na empreitada, que durou um ano até a realização da peça, Moura chamou o engenheiro português Paulo Alvito para ajudar na construção da inteligência artificial que faz com que os robôs interajam com os atores. "Se os robôs forem deixados no palco andando livremente, eles não vão esbarrar em nada graças aos sensores de movimento. Eles sabem muito bem onde estão", explicou Alvita.
Breno Rotatori
Peça teatral R.U.R. – O NASCIMENTO DO ROBÔ, 05/08/2010
O personagem Lúcio, um engenheiro, interage com um dos robôs da peça, Primus

A dupla portuguesa desenvolveu uma espécie de sistema de GPS dentro do teatro. Eles explicam que os robôs têm, assim como os atores, uma marcação no palco que representa onde eles precisam estar em momentos específicos da peça. "Desenvolvemos vários pacotes de ações e tudo que fazemos é dar uma ordem à distância para que algumas dessas rotinas sejam executadas", explicou Moura. Uma vez dada a ordem, o robô escolhe a melhor forma de chegar até a marcação no palco — orientando-se pelo sistema de GPS local — e, a partir disso, interage com os atores falando alguma coisa ou fazendo algum sinal.
Para criar a ambientação dessa trama, o cenário é feito a partir da projeção de filmes em um telão, sob trilha original criada pelo músico português Carlos Maria Trindade.A adaptação do artista português é uma atualização mais otimista. A peça dá palavra e liberdade aos robôs e "no fim, a humanidade é exterminada, mas acontece uma coisa positiva, com o nascimento de um bebê, mesmo sendo de um robô", explicou Moura.

Não é apenas o movimento que faz parte da autonomia dos robôs. Em vez de terem suas vozes dubladas em tempo real durante as apresentações, cada robô possui seu próprio microfone e falas gravadas previamente. A decisão de falar é tomada pelo sistema de inteligência artificial criado por Moura, dependendo do momento da interação. Uma das cenas mais sofisticadas da peça tem apenas dois robôs em cena dialogando, sem a presença de nenhum ator.

Nova experiência - E para aumentar ainda mais o nível de complexidade da apresentação, Moura desenvolveu um robô especial que age livremente, podendo dizer até 80 falas diferentes e em momentos aleatórios da peça. "Às vezes estamos no meio de uma fala intensa e o robô vem com uma gracinha", disse a atriz Sandra Miyazawa, que interpreta Helena, esposa do cientista Absoluto, representado pelo ator Beto Matos. "Se o robô fala em um momento errado, cabe ao ator resolver a questão porque no fundo e, por enquanto, ainda somos nós que estamos no controle", disse Beto.

A experiência também foi inédita para os artistas envolvidos no espetáculo. Os atores disseram que os ensaios, que duraram apenas um mês, foram diferentes de tudo que haviam feito antes. "No primeiro dia eu não conseguia chegar na cena em que eu conversaria com o robô porque eu não sabia exatamente como eu reagiria", disse o ator Marcos Azevedo, que interpreta o cientista Lúcio. Moura disse que o primeiro dia de ensaio foi terrível. "Os atores ficavam perdidos quando os robôs começavam a interagir, mas agora estão todos acostumados", disse aliviado.

Apesar de toda sofisticação, os robôs não possuem a mesma flexibilidade de atores reais. "O principal no teatro não é a possiblidade do erro, mas como o transformamos em algo inusitado. Se eu gaguejo para um robô, a reação dele é a mesma sempre, ele não improvisa", disse Beto. Apesar disso, Sandra revelou que os robôs têm suas vantagens. "Quando eu estou tensa ou nervosa e falo com meus colegas para me tratarem com cuidado, eles implicam! Os robôs são mais sensíveis", brincou.

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